O Tesouro Eterno: a incessante busca pela felicidade
Caros amigos, no último post tratei com vocês de algumas ilusões ligadas à religião, neste comentarei sobre outras ligadas à ciência, as quais, penso ser de foro íntimo e coletivo.
Ademais, desde os primórdios dos tempos o homem vem tentando achar uma fórmula ou um meio em que pudesse haver-se a si mesmo, a sua felicidade. Durante boa parte deste tempo, coube a filosofia e as artes a tentativa de entender a felicidade. Mas recentemente alguns cientistas criaram uma tal de “Ciência da Felicidade” (veja as reportagens no fim deste texto), numa tentativa desesperada de entender ou vender os mecanismos que levam o ser humano a tal “estado de espírito”. Mas de fato, minha pergunta refere-se à possibilidade de que tal empreendimento possa produzir frutos coerentes. A isso nos deteremos mais abaixo.
Sinceramente fico preocupado quando a ciência constrói para si e para a sociedade mais ilusões e crenças, quando na verdade seu papel deveria ser o de desmistificar a realidade humana, ajudando o homem a se livrar de seus fantasmas e não o onerando com mais. Porém, me parece muito mais um jogo de marketing em torno do pote de ouro do que uma tentativa de fato de tratar de maneira objetiva os fenômenos que são nomeados pelo senso comum como felicidade. Destarte, felicidade em si, não passa de um sentimento, uma emoção humana, ou ainda um estado e não uma forma de ser ou de comportar-se. Com isso, eu pergunto a vocês, como produzirmos um sentimento ou um estado que depende da história de vida de cada ser?
De certa maneira a ciência a meu ver reforça a obrigação de sermos felizes a todo custo. Vejo tentativas de evitar e fugir do que pode ser entendido como custoso a vida diária do homem de todas as maneiras tangíveis e intangíveis. Aliás, o esforço do homem com o empreendimento da ciência sempre foi o de encontrar maneiras em que pudesse poupar-lhe de “dificuldades”. Vejamos um exemplo idiota, porém bastante prudente para nossa análise: pensem em quanto esforço o controle-remoto de uma TV poupa o homem, ainda mais se estiver doente. Mais exemplos de intolerância ao “sofrimento” constituem-se nos medicamentos usados para suprimi-lo, como por exemplo, o Prozac (Fluoxetina). Porém, é claro, existem quadros psiquiátricos crônicos que demandam de medicação específica.
Não obstante, o Zaratrusta de Nietzsche deseja aos seus melhores amigos os sofrimentos mais ilimitados que o ser humano possa suportar, e, de fato, o faz porque este trata-se do principal motor de “evolução” social da humanidade. O que entendemos como difícil (conflituoso), nos leva a perceber questões em nós mesmos, que jamais chegaríamos por outras vias, como afirmava Freud.
Tudo o que nos impulsiona à novidade, bem como, a discrepância comportamental deve-se ao que vulgarmente chamamos de conflito, ou possibilidades de escolhas diferentes. Isto é, diferenciar-se é necessário para a sobrevivência da humanidade. Tal variabilidade comportamental é resultado do modo como cada um se relaciona ou se relacionou com o mundo a sua volta. Cada vez que experienciamos algo, nos tornamos diferentes para sempre. Assim, nunca somos os mesmos, e eis que surge um dos infinitos humanos, a possibilidade de se comportar.
Logo é incoerente afirmamos que as circunstâncias passageiras afetam menos o comportamento do que o emaranhado genoma do sujeito. Ora, se toda vivência nos altera, nossos genes não seriam alterados também? Portanto, amigos é uma ilusão nossa acreditarmos que podemos nascer felizes, que somos ou seremos felizes, quando na verdade o que a vida nos oferece são experiências das mais variadas possíveis que estão em acordo com nossas “escolhas”.
Essas escolhas, por exemplo, dependerão da cultura em que estamos inseridos, da postura religiosa que assumirmos, do sistema econômico que somos submetidos e etc., logo experimentar o sentimento de felicidade relaciona-se também ao modo como a sociedade a nossa volta se estrutura. Por exemplo, sujeitos que acreditam que só experimentarão a sensação de felicidade quando estiverem na vida eterna, como defende a Igreja Católica, podem adquirir comportamentos autopunitivos quando desobedecem algum dogma (ou lei) dessa agência de controle. Esses comportamentos autopunitivos podem ser inclusive auto-lesivos, como a “flagelação”. Isso tudo em nome de uma sensação que é intrinsecamente humana e não divina.
Conquanto, mais válido seria se procurássemos compreender nossa história de vida através de uma análise crítica de nossas experiências do que se remetêssemos o sentimento de felicidade a Deus, a uma personalidade “x”, a um gene “y” etc. O autoconhecimento, pode nos ser bastante útil se decidirmos nos conscientizar do que está associado à felicidade de cada um. De antemão, podem ter certeza de que se trata de muitas categorias comportamentais, sendo que, cada uma possui uma relação histórica diferente em nossas vidas. E de fato isso é tão possível na clínica psicológica, através da psicoterapia como na vida diária, através da auto-análise.
A ilusão colocada praticamente vai de encontro à de nos transformarmos em máquinas em que ministrado o devido comando tudo desaparece. Quem assistiu ao Filme “Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças”, sabe do que estou falando.
Ademais, somos obrigados a conviver com as crescentes propagandas nas Emissoras de TV, das quais, associam o sentimento de felicidade com os mais variados bens de consumo, como: carros, bebidas alcoólicas, roupas, jóias etc. A mensagem passada é: Você quer ser feliz?; Então compre (Seja o primeiro a ter)... É tolo, pensar que muitos ainda caem nessa falácia.
Em suma, amigos, não concordo com uma ciência que tente produzir artificialmente estados subjetivos. Mais útil seria se a ciência compreendesse as relações por detrás do comportamento humano que também são responsáveis ou foram em algum momento da evolução por sentimentos e sensações, do que vender hipóteses parecidas as de que o "Papai Noel" existe ou que o "Coelhinho da Páscoa" traz chocolate. Neste ato a ciência deixa de integrar o campo objetivo para ocupar o subjetivo, perdendo com isso seu poder de generalização.
Para ler a matéria na Revista Super Interessante, acesse o link abaixo:
http://super.abril.com.br/superarquivo/2005/conteudo_376784.shtml
Para ler a matéria na Revista Galileu, acesse o link abaixo:
http://revistagalileu.globo.com/Revista/Galileu/0,,EDG84828-7855-208-8,00-FELICIDADE+CONSTRUA+A+SUA.html
Para ler a matéria na Revista Mente&Cérebro, acesse o link abaixo:
http://www2.uol.com.br/vivermente/reportagens/a_construcao_da_felicidade.html
*Assista ao Trailler do Filme "Em Busca da Felicidade" no YouTube através do link abaixo:
http://www.youtube.com/watch?v=_xcZTtlGweQ