Coluna Extra: Paradas e Violência!
Prezados,
Eu publiquei recentemente um texto no Grupo do Yahoo "e-Jovens: Adolescentes e Jovens LGBT" e resolvi também publicá-lo aqui como uma introdução ao tema central da "Coluna Coisas da Vida" deste mês. Aguardo as opiniões de vocês. Assistam ainda ao vídeo do Youtube mostrando as cenas reais do espancamento do Marcelo na última Parada do Orgulho GLBT de São Paulo. Segue-se abaixo então o texto na integra e logo depois o video.
Meu nome é Fláwyo, tenho 25 anos e este é meu primeiro contato com o Grupo. Escrevo-vos de Rio Verde-GO e atualmente sou estudante.
Li os últimos post do Grupo que chegaram até o meu e-mail e fiquei pensando sobre os comentários feitos a respeito da Parada de São Paulo e o caso do espancamento de Marcelo.
Sabemos que este é mais um dos tantos casos de violência que atingem a população GLBTT.
Há pouco menos que 2 meses atrás pensei em organizar uma "Parada" em Rio Verde-GO.
Na ocasião houve muita resistência por parte dos meus amigos heteros e homos.
Uma amiga hetero chegou a me dizer: "Você é meu amiguinho querido... Não quero que você se machuque com isso..."
Um amigo gay: "Porque você quer mecher com isso... Eu já fui e acho um circo... Uma palhaçada tudo isso..."
Um casal de amigas lésbicas: "Você só pode estar doido... O que vai dar de beesha depenada na avenida..."
Uma travesti amiga: "Ah não, já levo na cara demais... Não preciso de mais borrachada não..."
Confesso que as opiniões embora todas contrárias não me deixaram tão preocupado como uma reflexão que fui fazendo ao longo das diversas conversas que tive com Presidentes de ONGS e demais Coordenadores de Projetos Sociais da cidade. Muitos me disseram: "Isso irá gerar morte na cidade... Você está pronto para ver isso acontecer"?
Mas meu interesse com tantas conversas era analisar o grupo com qual eu iria lidar, embora, eu não tenha encontrado dentre os meus aqueles que não tremessem diante da palavra PARADA. Outra amiga hetero chegou a perder o controle comigo quando disse estar pensando sobre organizar uma Parada.
Interessante que quando eu mencionava a essas pessoas as idéias que tinha sobre a "Parada" boa parte delas me disseram não concordar com o que viam na TV, ou com o que tinham visto durante suas participações em Paradas. Isso, porque as idéias que tive diferiam do formato concebido atualmente nas "Paradas" (aliás, nem de Parada eu chamei, por isso, as aspas). Todavia, como disse, a um amigo, não afirmo que minhas idéias sejam melhores ou que iriam produzir resultados melhores, porque não sei, não as testei. Apenas penso diferente e me comporto coerentemente com isso.
O fato é que analisando os atuais formatos em que as Paradas estão organizadas, acredito que elas favoreçam violências como as que ocorreram com o Marcelo e tanto outros. E isso pouco envolve questões sócio-econômicas.
A Parada deveria ser um momento de SENSIBILIZAÇÃO da comunidade em geral (aliás, este deveria ser o principal objetivo). Ela deveria dar conta de mostrar a população (sem distinção de gênero sexual) que somos humanos. Que não somos coisas ou objetos do acaso cultural. Enfim, ela deveria ser cativante suficientemente para comover a população em geral e fazê-la aliar-se a causa da diversidade sexual que não se resume aos GLBT.
Gritar para as pessoas que existimos pouco irá resolver a questão da homofobia. Acusar fulana e beltrano de serem preconceituosos etc e tal também. Isso não instrumentaliza a população e nem a motiva em torno da mudança comportamental. Ao contrário, assusta e gera mais violência. Vejam que não estou dizendo que tais ações são inúteis, estou apontando que elas são coercitivas do ponto de vista social.
Infelizmente, percebo a revolta justificada na população GLBTT. Estudos sociológicos e psicológicos apontam para as conseqüências nefastas da marginalização social. Porém, a população GLBTT também deve ser sensibilizada e motivada a respeitar e aceitar os limites do outro. Vejam que não menciono que com isso devamos ser passivos.
Em suma, o que quero lhes dizer é que a população como um todo deve ser levada ao encontro com a diversidade, sem que se façam tantas menções aos gêneros sexuais, afinal, somos todos humanos (e este deve ser o foco principal), e a sexualidade é apenas uma pequena variável de tudo isso.
Em suma, penso que o Movimento das Paradas já fizeram muito sim (seria hipocrisia de minha parte dizer o contrário), entretanto, podem e devem avançar mais. Porém, é claro, isso será um processo longo e extenso que não irá se resumir em dias pontuais ou em programações semanais.
Bom, acredito que me estendi demais. E deixo a palavra com vocês.
Abraços a todos... É um prazer estar no grupo.