domingo, 28 de fevereiro de 2010

Coluna "Diário de um Pensador": Beleza e Dor









As buscas humanas pelo ideal da beleza física e intelectual sempre perfizeram a nossa história. Não é de hoje que buscamos esconder o nosso corpo, atrás de roupas; o nosso cheiro, confundindo-o com perfumes; o nosso rosto com pinturas etc. Porém, nunca negamos quem somos como o fazemos nos dias atuais.

A todo o momento, deixamos de vivenciar nossas diferenças para seguir o "padrão". É o padrão do corpo magro e atlético, da última moda de vestimentas, corte de cabelo, calçados e adornos. Enfim, nunca tivemos tanta individualização sem individualidade. Isto é, ao mesmo tempo em que o SISTEMA nos individualiza, ele rouba ou bloqueia aquilo que nos difere uns dos outros, a nossa individualidade.

Tanto mulheres quanto homens são alvos desta campanha mundial pela fachada estética do correto, do bem, do legal, do perfeito, esquecendo-se de serem ou de buscarem ser quem realmente são. Muitas são as pessoas que mutilam o próprio corpo em busca de um rosto igual ao do fulano famoso no filme x. Isso, sem falar na quantidade significativa de vidas perdidas em mesas de cirurgia de lipoaspiração. Afinal, a vida é menos importante do que corpo; certamente um contrassenso.

São mulheres e homens que subsituem o prazer de degustar um bom prato de comida por uma farinha de cereais esdrúxula chamada ração humana. Os famosos shakes ocupam o mesmo patamar no quésito da substituição. A busca pelo corpo perfeito pode em alguns casos se tornar tão compulsiva e obsessiva que alguns que não conseguem fazer a tal substituição e optam por laxantes ou o famoso truque de colocar o dedo na garganta e vomitar.

Enfim, a beleza nunca foi vivida de maneira tão superficial como nos dias atuais. As pessoas deixaram de primar pela beleza de seus próprios comportamentos, isto é, pela beleza de serem quem são. Não vejo uma época mais narcisistas do que esta, onde os padrões estéticos são capazes de aniquilar toda a criatividade, inventividade e espontaneidade do homem moderno. O homem se tornou marionete nas mãos de alguns que se dizem saber de suas necessidades estéticas. Parece que os ideais do renascimento, onde o culto era justamente sobre as diferenças do corpo (não impondo padrões), se perderam nos dias atuais, ante a baboseira da normalidade estatística da estética. Certamente, trata-se de um movimento de despersonalização e automatização do homem.

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