domingo, 28 de fevereiro de 2010

Coluna "Oração e Ação de cada Dia": Diferenças entre Fé e Religião



Nestes dias quando eu ainda participava dos cultos religiosos eu comecei a perceber o quanto o discurso da fé é diferente do discurso da religião. Enquanto, a fé espera no amor, na compreensão, na valorização do humano; a religião tem esperado no poder sobre os homens, na ditação de regras e padrões morais aniquilantes, na manipulação política e social, etc. De modo que, parece-me hoje a religião comportar um caráter mais destrutivo do que construtivo para a vida diária do homem.

Aquela religião, vista antes como promotora do amor e da paz, perdeu seus rumos, desde quando seus próprios líderes começaram a instigar revoltas, preconceitos, ódio e violência contra o que eles chamam de maus. É interessante que nem mesmo os ateus acreditam no mau como entidade absoluta. Porém, a religião parece insistir nesta divisão primitiva, onde a perversidade de Deus adquiriu uma importância cada vez maior. Afinal, em algumas Igrejas, nos últimos anos a lista de pecados vem só aumentando.

A fé deixou de ser colocada como um produto da vivência espiritual dos homens, a qual, deveria ser mais expressiva fora dos cultos religiosos do que dentro dele. A moral religiosa distorceu tanto a realidade dos homens, que hoje, assistimos àqueles que entregam suas casas, carros, enfim, seus bens em nome da ilusão da salvação. Parece que voltamos ao tempo da venda de indulgências, sem que nenhuma autoridade intelectual se manifeste contrariamente a respeito. Parece que a cada dia a Igreja em nome de seu Deus quer manifestar sua intolerância ante a dificuldade em controlar os poucos homens que ainda estão vivos, ou seja, aqueles que ainda ousam desafiar seu poder opressor.

A fé passou a ser criada e imposta por líderes religiosos, e a paranoia se tornou tão avessa que não muito raro os homens se matam ou matam uns aos outros em nome do Deus da religião. Fico pensando, não seria outro o papel da religião? Não à toa, Nietzsche considerou o Cristianismo defendido pelas Igrejas como um verdadeiro fel mortal a vontade de potência dos homens. Certamente, Freud não foi diferente quando se posicionou em relação à religião.

E hoje eu me questiono se ainda vale a pena perdemos nosso tempo com o Discurso da Religião. A resposta a esta pergunta, é ambígua, afinal, de um lado quando observamos a mediocridade intelectual de vários líderes religiosos constatamos que verdadeiramente não vale a pena, entretanto, quando analisamos a influência política e midiática que o discurso do Deus Cristão exerce sobre as pessoas de um modo geral, notamos que devemos sim perder esse tempo. Afinal, esses conceitos precisam ser reconstruídos no ideário social e o homem precisa superar a religião, enxergando que os mitos são maneiras de se explicar fenômenos naturais que não encontraram explicações racionais ou às vezes nem românticas.

Bom seria se os homens buscassem se conhecer e construir sua própria fé. Que não cedessem as tentações da religião. Que desenvolvessem meios de contracontrolar os efeitos paralisantes, agonizantes e aniquiladores da religião sobre a humanidade do homem. Afinal, parece que para a Igreja existem seres humanos e pecadores (ou seja, os que "pecam" são destituídos de sua própria humanidade).

Oxalá, que o homem buscasse em si as condições para ser. Que deixasse de acreditar na perversidade do Deus Cristão. Um Deus cada dia mais implacável, afinal, se observarmos bem, quanto mais a Igreja perde seu poder político, mais seu Deus fica maldoso, cruel e vil. Quanto mais perdida ela se torna no meio de sua moralidade escusa e pedante, mais fria e desumana ela se torna.

Certamente, Religião e fé não combinam mais. Eu diria que são opostas, e onde uma vive a outra não pode conviver e se expressar. Afinal, quem pregou que a fé é cega, mentiu, pois, diante de toda a opressão e a violência que a religião tem infligido aos homens temos que ficar de olhos bem abertos se quisermos sobreviver e manter a nossa humanidade.

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